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Um pouco de mim

Foto by Carla Couto

Me chamo Edgard Araújo, Odé Oromí, iniciado no Candomblé de Nação Ketú em 31 de Março de 2006 para o Orișá Òlòógunedé pela Iyalorișá Rita de Cássia, Iyá Ejité no Ilé Așé Iyá Ogunté.

A religião africana entrou na minha vida após uma manifestação mediúnica que sempre digo teve a função de quebrar tabu, tinha ewó ao que denominava “macumba”, tinha todos os argumentos possíveis para dizer às pessoas que não se afiliassem a tal religião. De repente, em um domingo na praça com amigos apaguei, dei trabalho aos que estavam comigo e por indicação de uma amiga Fernanda Sequeira, fui ainda meio que com os dois pés atrás na casa do caminho, que é um Centro Espírita que funciona como uma espécie de Pronto-Socorro, neste dia houve outra manifestação e fui indicado a participar de um desenvolvimento mediúnico, semanas depois começaria neste mesmo Centro a fazer atendimentos, com poucas semanas num dia de atendimento, sentei na cadeira e de repente senti um grande arrepio e como sempre acontecia ao incorporar apaguei, quando acordei me disseram que havia sido tomado por uma Cabocla de nome Jarina, desde esse dia, somente ela era que dava os atendimentos no Centro Espírita, e todas as vezes ela dizia que me avisassem que ali não era meu lugar, e que logo estaria me encaminhando para onde eu já deveria estar.

Foi quando numa segunda-feira fui visitar uma tia, ela estava de saída e se propôs me dar uma carona, pois minha casa era no caminho de onde ela ia, conversávamos bastante e acabou que passamos do ponto onde ficaria, ela então propôs que eu fosse com ela até a casa de Candomblé que ela estava indo e que na volta me deixaria em casa. Meio contrariado e desconfiado do que se faria neste Candomblé, além do que eu havia aprendido dentro da Igreja Católica, segui com ela. Chegando lá, diferente do que eu achava que encontraria, vi um grande salão com algumas vasilhas que depois entenderia que seriam os assentamentos da casa… Ficamos sentados, minha tia esperava para jogar búzios, quando chegou a sua vez, insistiu bastante para que eu jogasse. Me vi sem saída e para não ser antipático, meio descrente, fui.

Sinceramente não lembro de nada que minha sacerdotisa me falou naquele dia, pois passava muito mal, suava e tava meio fora de mim, lembro-me apenas de quando me levantava e ela dizia, vá tomar um banho meu filho, levantei e ao cruzar a porta do quarto de Jogo levei Barra-vento até o final da casa, onde se tem um mastro com a Bandeira do Tempo, lá fui tomado pela cabocla, que audaciosamente, segundo me contam, mandou que chamassem a dona da casa, algumas pessoas tentaram dizer que ela estaria ocupada, mas Dona Jarina irredutível insistiu, até que minha mãe veio até ela. Frente a frente, a cabocla olhou nos olhos de minha mãe e perguntou se ela aceitava meu Orí, que lá era o lugar em que eu deveria ser iniciado e preparado para assumir a minha missão como um sacerdote, isso aconteceu em agosto, em 23 de Setembro de 2007 dava o primeiro passo, um borí e no ano seguinte, na data que citei no inicio era iniciado no Culto aos Orișá.

Os anos se passaram, e o amor pela Afro-Religiosidade tem crescido, e com ele a necessidade de cada dia estar mais preparado para um dia assumir o que a mim foi destinado por Olodumaré e pelos Orișá, confesso, o sacerdócio ainda amedronta-me, mas me acalenta a certeza de que serei sempre guiado pela Sabedoria de Òlòógunedé e Awón Orișá e ainda pela Cabocla Jarina e demais caboclos.

Òlòógunedé Gbé ó!

4 comentários em “Um pouco de mim

  1. Verdade mano… Eu passei por isso muito cedo!!! Eu era muito criança, tinha 5 anos quando eu bolei pela primeira vez nos braços da minha mãe, numa saida de yawó aqui em macapá-ap, no ano de 1994… Tinha a mesma concepção, mais convivendo eu vir que outro realidade, e tudo de bom… Me sinto muito bem no candomblé!!! Eu ja sou feito quase dois anos…. E tenho orgulho de ser tbm orisá Logun edé!!! Abração mano…

    • Mano Juliano,

      A convivencia com os cultos de matriz africana descortina sempre a verdade do culto, que não é como apregoam amplamente algumas denominações religiosas e setores da sociedade, uma religião demoniaca entre outros estigmas que carregamos ao longo dos anos…
      Somos uma religião de Paz, de respeito a natureza, de inclusão, de amor ao próximo, e por isso, todos aquelesque se permitem deixar o preconceito de lado e conhecer nosso culto, veem cair por terra o temor de estar se aproximando de algo abominável.
      Que nosso Pai sempre conserve sua fé mano, e lhe faça cada vez mais apaixonado por nossas divindades, para q você some aos propagadores das verdades de nossa fé.
      Òlòógunedé gbé iyé!

  2. Estive lá e vi todo o seu crescimento pessoal dentro da religião. Te amo e acredito na sua espiritualidade. Nada de medo primo/ismão. Vamos pra cima da responsabilidade, que é grande, mas tenho certeza que você é maior que ela. Beijos. Babá Omiyra.

    • Bàbá Omíyra, minha amiga, irmã, prima, cumplice…
      Sou grato a Orisá por lhe ter em minha vida e suplico às nossas divindades que me permitam usufruir por toda minha vida de sua companhia…
      Grato por você ser sempre presente, desde o inicio desta minha caminhada, por acreditar que mesmo sendo para mim algo novo, era possivel eu dar este passo. E acredito que tenha caminhado de acordo com a vontade de nossa ancestralidade, pois te ver hoje iniciada me causa alegrias e certo orgulho, pois me sinto contribuidor com meu exemplo e amor para que você fosse capaz de dar esse importante passo que te fez mulher nova, muitos que te conheceram podem dizer que foste uma antes e és outra hoje após sua decisão por trilhar os caminhos que Orisá Nlá concebeu pra você!
      Òlòógunedé gbé iye!

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